O Gambuzino / The Gambuzine

O gambuzino aparece nas noites de Outono, primeiro nas florestas ancestrais, depois nas cidades urbanas cavernosas e acaba por fim, meio reflexo, meio destino, a centilar no firmamento; sempre com as suas antenas bem atentas à invenção e pura fantasia humana.

Amizade

Oh doce cantoria da amizade, que parte e reparte em cada dia que passa,
Sentido chegado em cada palavra que se entrega, que se dá,
Hoje sendo o gato gozador,
Amanhã, o pardal alado.

Seria o fosso do inferno se tudo corresse bem. Seria o fim da monção se a vida se entreabrisse diante dos meus olhos. Seria o fim da morte se a vida nascesse cedo. Seria o fim da consolação se a raiz do mal fosse descoberta. Seria a terminacao inquebrável do sofrimento se tudo estivesse no seu devido lugar. Seria o largo diante dos emcombros da morte se a vida renascesse numa flor. Seria um escândalo, um diluvio, um ressoar de petalas quebradas se tudo fosse selvagem. Seria o vilão da estória a accordar se a chama desse lugar fosse a redenção. Seria a flor de lótus se a renascença fosse hoje.

Amar-te

Não percebes que te quero amar profundamente? Que te quero beijar, que te quero tocar, sentir-te ao pé de mim, acariciar-te, tocar-te de novo, sentir-te de novo, mais uma vez e outra ao pé de mim, envolta nos meus braços, satisfazer os meus anseios, rebolar contigo na areia da praia, na erva do jardim, nos lençois de uma cama perfumada, rolar e rebolar num intenso momento de prazer, sentir a tua aura a fundir-se com a minha, num eterno momento de candura, abraçar-te e ficar por lá, abraçar-te e sentir-te apenas, sentir os nossos corpos energéticos unidos por uma semelhante modulação de amor, beijar-te intensamente amando cada um dos teus poros, sentido o teu gosto, o teu sabor, revendo em ti o meu sentido, vendo no reflexo de mim nos teus olhos o meu próprio propósito, a minha proposta, o meu encontro, a minha fonte eterna de energia verdadeira. És o meu catalisador, és a minha heroína, o meu gosto pelo desconhecido.

Aniversário, dia a leste do paraíso, noite a oeste da esperança.
Dia que aconchega, dia que se sente ausente, que traduz as expectativas num solene encanto de boémia existencial.
Neste dia, deixas de querer ou saber, deixas de ir e vir, apenas existes aqui, neste segundo que me faz ler estas linhas.
Leia-se então a vivência, trazendo as novas e as festas, os sonhos e as promessas num presente solto até de madrugada.
Irás ser, irás fazer surgir num só folêgo, numa só jornada fulminante tudo aquilo a que pertences.
Num só querer, poderás presenciar o destino acompanhada por todos.
Aqui e agora, és tu, sempre tu. Vamos, traz os amigos, junta uma festa, rodopia, celebra, canta, encanta, dança, sente, rodopia mais e agora. Usa a tua voz, usa o teu corpo, bem alto, bem alto! E grita, grita sobre, e porque não, uiva, destrói o momento, destrói o momento com o estrondo a que este dia te assiste.
Não pares, não respires, não dialogues contigo sequer.
Este dia é teu, este dia é nosso, é vivo, é aqui, é assim.
Nesta terra desconhecida.

Altos desejos que se juntam na virtude de um apontamento encenado. Ela esconde aquilo de mais sagrado e aquilo de mais volátil. Entre eles o corpo separava-se em dois palmos e no momento a aproximação era total. Nada se podia afigurar mais belo ou sublime. Conhecendo a existência que apreciavam os demais e por si demonstrada, seria inevitável. Era tudo transforme, tudo sublime, tudo se apresentava na mais moderna transfiguração por si encontrada. No encontro, o recontro esperava a capacidade de elevar o espírito ao sentido mais elevado, à esquina mais temperada da alma, figurando no alcance de uma mão, de um deslumbre, de uma poesia ao ouvido no encontro da saudade. Um boçal desejo deu origem a um intenso prazer, da realidade mundana, ao som da água que cai, tudo se podia agora afigurar, longamente breve.

A razão do sentido e o sentido da razão trocaram palavras e vieram por mão. Uma deu uma hora, outra deu uma setença. Sentiram-se perdidas no elo da avença. Rogaram as pragas, seguiram os ideais. Sentiram-se cometas, juntando os tais. São horas, senhora, são horas assim. Juntando os sonhos, rogando por mim.

Traquinas da Vida

Esses traquinas, esses sempre em pé que não param de saltar, que pulam, que invadem o espaço teatral em busca do eldorado de um fascínio envolto em neblina de piratas e ventanias perdidas. Entreabrindo-se ao vento redentor com sua demanda pela jovial verdade do sentir da pequenez, eles saltam e eles coaxam. Saltam porque ao alto seu espanto vê mais. Coaxam porque coaxar é bom, porque sentem que são capazes de o fazer, porque o seu progresso é a sua criatividade e o seu sonho é manter o prazer da descoberta em primeira mão. É olhar, é entreabrir, é sentir a curiosidade, invadir e gritar porque os balões não podem durar para sempre. Os balões são para soprar e para pisar. Romper, com tradições e reviravoltas. Juntar ao sempre vivo o sempre bom. Renascer mais uma vez, mais um dia, porque ser criança não é para sempre e amanhã a aventura ainda regressa.

Noite

Eram altos os sonhos e parcas as cotovias, era vazias as passagens e soltos os infernos. Também ele se fez chegar em rotas de colisão com o desespero. Abriu o caixão, revelou o que era esperado; nada, vazio. Exasperado pegou no telefone teclando furiosamente, do outro lado uma voz fez-lhe chegar a vez da fala: "ELE NÃO ESTÁ AQUI! FUGIU!". Rapidamente a resposta veio abrindo a encruzilhada: "Não meu caro amigo, ele és tu, e para lá caminharás." Desligou. Decidiu nunca mais atender o telefone. Vazio e escuro, cambaleou para a saída. Era seu o negócio, mas do outro a razão.